30.8.05

a capela do mafarrico (english@end)

perdida entre 2 prédios numa rua estreita de aveiro, há uma pequena e singela capela de planta circular, que encontro sempre fechada.
"o exterior diz já a composição arquitectónica: corpo pequeno, baixo e cilíndrico, coberto de cúpula hemisférica. porta rectangular, de friso e cornija. levanta-se ao lado da cobertura modesta sineirita, sobre pequeno maciço. vêem-se neste mesmo, cobertos de cal, uns quatro ou cinco azulejos, sevilhanos, de princípio do século XVI." (Gonçalves, A. Nogueira – Inventário Artístico de Portugal: Distrito de Aveiro)

ora na sexta feira passada, andava eu a passear pelas ruas de aveiro com uns amigos de londres, quando nos deparamos com a porta da capela aberta, decorações singelas na rua, velas acesas e gente a entrar e saír. aproximei-me e comecei logo a fotografar. da porta sai uma senhora que se dirige a mim e pergunta baixinho "sabe o que está a fotografar?" ao que respondo que não e que lhe queria perguntar isso mesmo. responde-me então, de forma ainda mais misteriosa "é a capela dele". dele? pergunto eu. e a minha curiosidade aguça-se! "sim, dele. sabe do que estou a falar". não! "do mafarrico! é no dia 24 de agosto que o prendem pela perna" e com isto vai-se embora.
curiosa até não poder mais, entro na capela, onde está uma senhora a tomar conta. pergunto se posso fotografar lá dentro ao que me responde, de forma muito simpática, que esteja à vontade.

nossa senhora do O, a santa das grávidas, com s. joão baptista à sua esquerda e s. bartolomeu à sua direita.

entretanto não aguento mais e pergunto-lhe o que queria a outra senhora dizer com esta ser a capela do mafarrico. é então que me explica que esta é a capela de s. Bartolomeu que, segundo a lenda, amarrou o diabo pelas pernas ao fim das 24 em que andou à solta, no dia 24 de Agosto. como diz o povo, em dia de São Bartolomeu anda o diabo à solta! diz-me para subir ao altar e espreitar por detrás das flores para o ver amarrado pela corrente do santo. é lá estava ele, ao dependuro!
"..., em Aveiro, quando alguém se acha roubado ou perdeu um objecto e não lho entregam, vai igualmente bater à porta da capelinha de São Bartolomeu, na Beira-Mar, e diz três vezes:
São Bertolameu
desprende o teu moço,
que faça guerra
àquilo que é meu.
tais palavras devem ser proferidas ao bater da meia-noite e repetem-se, pela semana adiante, até que o objecto apareça. ao mesmo tempo, é de obrigação deitar por baixo da porta a mais insignificante moeda que então correr." ([SARABANDO], J[oão] Vieira – Concelho de Aveiro: nótulas de etnografia e folclore. Aveiro e o seu Distrito)
___________________________________________________

lost between 2 buildings in a narrow Aveiro street, there’s this small simple chapel of circular plant, that i always find closed.
well, last friday as i walked along the streets of aveiro with some friends from london, we noticed the door to the chapel was open, with some street decoration, candles and people coming in and out of it. i approached the chapel and started shooting, when out comes a lady that turns to me and asks quietly "do you know what it is you are photographing?" no i tell her, but was thinking about asking her just that, to what she replies, misteriously, "it is his chapel". his? i ask, while my curiosity grows. "yes, his, you know what i mean”. no i don’t! “the mafarrico’s*! it is on the 24th that they tied him up by the leg” and with this she departs.

curious as I can be, I go inside the chapel, were a lady is sitting. I ask her if I can take photos inside, to what she nicely replies that yes, sure.
but i can not take it any longer and so I ask her what the other lady meant by this being the mafarrico’s chapel. that’s when she explains that, legend has it, st. bartholomew tied up the devil by its legs after he was loose for a hole day, on august 24. as the people say, in St. Bartholomew’s day, the devil is loose. she tells me to go up to the altar and peep behind the flowers to see him tied up to the saint's chain. and there it was, dangling!


* mafarrico is a name given to the devil

Etiquetas:

postado por wandering_dune às 12:30 da manhã

23.8.05

chuva de cinzas

nos dois dias que passaram, a minha cidade natal foi rodeada pelo fogo que todos os anos teima em destruir o nosso país!
as imagens vistas na televisão e os relatos dados pelos meus pais por telefone sobre a noite passada em claro a apagar as fagulhas que caíam no quintal, que vinha do fogo mesmo atrás e que queimou casas abandonadas e matas, do cão que fugiu e ainda não voltou, deixaram o meu coração apertado, mas a viagem esta manhã desde a lousã até coimbra, ver o preto das matas por entre o fumo que persiste e a chuva de cinzas que parece não ter fim, trouxe-me as lágrimas aos olhos. os lindos vales, verdejantes ainda na outra semana, estão agora queimados. sítios tão familiares para mim, onde brinquei e passeei na minha infância, que explorei na minha juventude e que redescubro agora... queimados!
e não há maneira de a razão explicar ao coração o que se passou, porque arde assim... todos os anos, impunemente
postado por wandering_dune às 1:15 da tarde

18.8.05

casa brooker

last weekend, under the intense heat, i went to lousã to meet my friends from london (yes cristina, you ARE already from london) and lisbon.

lousã is a nice and friendly village in the outskirts of coimbra, my home town, which i left at the age of 17.


when i was a child, we used to go a lot to the Serra da Lousã, for walks around the castle. we would climb the hill up to the chapel of Srª da Piedade (Lady of Mercy), maybe have a picnic around there and finish the stay with a nice refreshing swim at the natural pool. when I was around 13, I went to one of the small abandoned villages – Cerdeira - with my scouts group. we “camped” inside one of the houses, after cleaning it up and covering the windows as we could. we would get water from a near by crook, make bread in the old kitchen and just enjoyed nature really. it was a great relaxing weekend.


years later, paul & jan were thinking about buying a house in portugal and were asking around about places that they might like. the first place that came to my mind was lousã, because i knew they enjoy hiking and the countryside rather then crowds and the seaside, and that they would need it to be a place with a fairly good transport system. i told them that, they looked around and it turned out i was right. they bought this nice house by the rail tracks, and that’s how we found out paul was a real trainspotter.

i’m glad they’ve enjoyed lousã so much and got the house there. it is always so nice to go back!
postado por wandering_dune às 2:41 da tarde

11.8.05

terrorismos...

na manhã de 6 de Agosto de 1945, cerca das 8:15, o bombardeiro B-29 Enola Gay largou a "Little Boy", uma das duas únicas bombas atómicas alguma vez utilizadas como arma de destruição massiva (e não em testes), desenvolvidas nos Estados Unidos como parte do Projecto Manhattan.

43 segundos após ter sido largada, uma explosão iluminou o céu matinal e um cogumelo cresceu sobre o centro da cidade.



em minutos, 9 em cada 10 pessoas num raio de 800 m do ponto de impacto estavam mortas.

às 11:00 da manhã , ET, as estações de rádio dos Estados Unidos começaram a passar uma declaração do Presidente Truman, informando o público americano que tinha sido lançada uma bomba atómica sobre Hiroshima e que se os japoneses se recusassem a render-se incondicionalmente, mais ataques se seguiriam.

os japoneses não se renderam e, a 9 de Agosto de 1945, aviões americanos despejavam panfletos por todo o japão:

"TO THE JAPANESE PEOPLE:
America asks that you take immediate heed of what we say on this leaflet.
We are in possession of the most destructive explosive ever devised by man. A single one of our newly developed atomic bombs is actually the equivalent in explosive power to what 2000 of our giant B-29s can carry on a single mission. This awful fact is one for you to ponder and we solemnly assure you it is grimly accurate.
We have just begun to use this weapon against your homeland. If you still have any doubt, make inquiry as to what happened to Hiroshima when just one atomic bomb fell on that city.
Before using this bomb to destroy every resource of the military by which they are prolonging this useless war, we ask that you now petition the Emperor to end the war. Our president has outlined for you the thirteen consequences of an honorable surrender. We urge that you accept these consequences and begin the work of building a new, better and peace-loving Japan.
You should take steps now to cease military resistance. Otherwise, we shall resolutely employ this bomb and all our other superior weapons to promptly and forcefully end the war."


enquanto outro grupo de bombardeiros aguardava que as condições atmosféricas permitissem largar a 2ª bomba, a “Fat Man”, sobre o próximo alvo - a cidade de Nagasaki.

a 10 de Agosto de 1945, um dia depois da bomba atómica ter atingido Nagasaki, fez ontem 60 anos, o imperador Hirohito ordenou a rendição aos seus líderes militares.
o número total de mortos é difícil de calcular devido à miríade de efeitos de longo termo da radiação, tais como cancro, leucemia, tumores malignos, malformações, aberrações cromossomáticas e genéticas, microcefalia.
ao todo, estima-se que os dois bombardeamentos tenham causado a morte a 120.000 cidadãos japoneses e feriram outros 130.000. em 1950, mais cerca de 230.000 pessoas tinham já morrido dos ferimentos ou dos efeitos da radiação. a maioria esmagadora de vítimas era civil.
postado por wandering_dune às 4:41 da tarde

8.8.05

raízes parte II

depois do fantástico workshop de broa, ainda deu tempo de ir dar uma espreitada aos cabritinhos que tinham nascido durante a semana.
a cabrinha chica e o bode ivo foram pais de uma fêmea castanhinha e um macho branco como a neve. apesar de a ilda dizer que são franzininhos, lá andavam aos saltinhos e a mamar... tão lindos!
a porquinha chegou entretanto... tão rosadinha! e até fez pose para a fotografia!!

e hoje de manhã, para acabar o fim de semana em beleza, a caminho do trabalho deparei-me com os marnotos da marinha troncalhada em pleno trabalho de acartar o sal em cestas de vime à cabeça! que visão fantástica mas, infelizmente, cada dia mais rara!

Etiquetas:

postado por wandering_dune às 3:18 da tarde

raízes

não fui ao trebilhadouro nem ao andanças, mas este fim de semana fui até à terra da minha mãe, peraboa, que fica na cova da beira e tive mais umas lições de tradicionalidade!
depois de ter já aprendido a fazer os bolos da páscoa (bornates, biscoitos, esquecidos e borrachos) e morcelas, desta vez vieram amigos de penacova ensinar-nos a fazer uma maravilhosa broa de milho!

depois de moído o grão de milho e trigo no mini-moinho, de preparado o fermento e fervida alguma água, estávamos prontos para começar.
numa gamela de madeira, juntam-se 2 medidas de milho e 1 de trigo e um pouco de água quente. começa-se então a apinhoar a massa, à medida que se junta água morna. não esquecer a pitada de sal grosso, neste caso, sal de aveiro. depois junta-se o fermento e amassa-se. a partir daqui a água a juntar é mais fria, para não matar os enzimas do fermento. depois de uma hora a trabalhar os braços, a massa está pronta a levedar. faz-se a cruz de acrescento, tapa-se a gamela com um lençol branco e espera-se que cresça.

enquanto a massa leveda, vai-se aprontando o forno. há que tirar as brasas e verificar a temperatura, atirando farinha lá para dentro - se queimar logo é porque está muito quente.
com a massa lêveda e o forno à temperatura certa, é tempo de tender. numa malga de barro vermelho não vidrado, coloca-se um pouco de farinha para arear e uma bola de massa. tende-se a broa dando voltas à massa fazendo-a saltar da malga. coloca-se então a broa na pá de padeiro e enforna-se. para as bolas, estende-se um pouco de massa sobre a pá, previamente polvilhada de farinha, e coloca-se carne ou sardinha. cobre-se com mais massa e enforna-se.
já com as broas e bolas enfornadas, não resta mais nada senão esperar. mas... a espera vale a pena! as broas ficaram lindas e boas e as bolas... ai ai!
bom apetite!!

Etiquetas:

postado por wandering_dune às 1:48 da tarde

5.8.05

fogo

o fogo tem a incrível capacidade de ser maravilhoso e terrível.
destrói o que encontra, levando consigo o trabalho de vidas, o abrigo e o conforto de muitos. desperta em nós forças que não sabíamos ter enquanto o combatemos e o maldizemos.


"Um popular combate um incêndio de grandes proporções em
Fonte do Oleiro, freguesia de Boavista, no Concelho de Leiria"
Foto: Paulo Cunha/Lusa".
in Publico

mas também nos fascina pela sua beleza, traz-nos calor, conforto e luz
ai fogo... por agora não precisamos que ardas por aqui
postado por wandering_dune às 10:49 da manhã

4.8.05

memórias de palolem

estava eu aqui a adicionar umas fotos de goa no flickr, enquanto sufoco com o calor e com o fumo que anda no ar, quando de repente me deu uma vontade de dar um mergulho nas águas calmas da praia de palolem.

mesmo com a bicharada toda que ataca, especialmente à noite, palolem foi sem dúvida o meu local favorito em goa. trata-se de uma prainha numa baía rodeada de palmeiras, onde desemboca um rio que vem lá do meio de uma mancha verdejante. na altura em que estive em goa tinha já acabado a época de turistas (felizmente), as monções aproximavam-se e os indianos andavam de férias. uns dias antes de ir até palolem, houve uma ameaça de furacão e as praias tinham sido evacuadas e já não havia barracas nas árvores para alugar.

alugámos um quartito na praia, de onde tinha acabado de sair uma família de cerca de 10 elementos, que consistia de uma cama larga com um colchão de palha (com cerca de 5 cm de espessura), coberto com um pano, uma ventoinha, uma mesa e uma casa de banho. havia osgas nas paredes e insectos de que nem sei o nome, mas era barato e a vista esplendorosa!!

em passeio pela praia, vimos os homens a puxar o pescado para o areal, à maneira portuguesa (arte xávega), de onde as mulheres com cestas vinham recolher o peixe comestível e os corvos negros tentavam apanhar também algum.

à noite jantámos num pequeno restaurante e, apesar de eu ter insistido que não queria picante, serviram-me o prato mais picante que já provei atá hoje!! comeu-o a xana, que estava já mais habituada e eu lá me rendi ao já habitual fried rice, mais seguro.

lá consegui superar o medo da bicharada e dormi relativamente bem. no dia seguinte, palolem estava repleto de famílias locais, que aproveitavam a única folga da semana, o domingo à tarde. uma dessas famílias acampou literalmente no nosso pequeno alpendre e aí almoçaram, conversaram e dormiram uma merecida sesta. os aromas do caril e os sons das brincadeiras das crianças compensaram o facto de termos de pedir licença para entrar no nosso humilde quartinho!

que belo fim de semana!!

Etiquetas:

postado por wandering_dune às 4:48 da tarde

2.8.05

musicas do mundo

a viagem até sines foi muito cansativa, mas interessante.

fiz-me à estrada eram já quase 2 da tarde, depois de uma despedida aos hamburguers do ramona (que fecha para férias todo o mês de agosto). chegada perto de lisboa e já fartinha de auto-estrada, decido ir até setubal apanhar o ferry e fazer o resto da viagem por estradas secundárias, por meio de dunas, pinhais, arrozais verdejantes e passando por muitas e diferentes aldeias.

a sines já só cheguei perto das 7, com tempo apenas para uns minutos na esplanada da praia, antes de me dirigir à zona do palco da praia e ouvir os samurai 4. não foi bem o que estava à espera, mas foi interessante. o ar de estrelas de rock dos tocadores de shamisen e de wadaiko não deixou de dar um toque engraçado ao espectáculo!
depois de uma recarga de roupas quentes em casa, lá fomos até ao castelo. fantástico como sempre, com o chão coberto de palha que exalava um leve perfume a hortelã e rosmaninho, o castelo foi-se enchendo de gente e de música. começaram os master musicians of jajouka, de marrocos, com os seus sons hipnóticos e ritmos por vezes desconcertantes. seguiram-se os KTU, com o acordeão de kimmo e os samplers de samuli, desta vez acompanhados da guitarra de 10 cordas de trey gunn e das percussões de mastelotto. muito interessante, embora confesse que prefiro kluster apenas. os grandes solos de guitarra são algo que nunca me cai bem.

o concerto seguinte coube aos irlandeses kila, mas eu não fiquei para ver. fui antes até à praia, a um bar onde se ouvia kizomba, relaxar um pouco antes da actuação dos konono n.º 1, banda eléctrica do congo. a multidão adensou-se para este espectáculo um pouco frenético e eu, com as minhas fobias de multidões, tive de me retirar mais cedo. mas parece que a música durou até depois do amanhecer!


sines já acabou, mas o andanças mal começou!!

Etiquetas:

postado por wandering_dune às 12:13 da tarde

mais recentes Home mais antigos
já exploraram
a explorar